Números de contaminados, taxas de sobrevivência e mortalidade, sintomas, métodos duvidosos de cura e prevenção… Cada novidade tornou-se motivo para sobressalto e um crescente sentimento de angústia e vulnerabilidade.
Para começar, vamos assumir que essa é uma situação completamente atípica e que foge ao nosso controle. Por isso mesmo, é normal sentirmos medo: ainda não sabemos exatamente como o vírus se comporta nem como vai ser o cenário no Brasil. “O desconhecido assusta, pois cria outras perguntas: como eu vou lidar com isso? Como vai ser comigo?”, afirma Dorli Kamkhagi, psicóloga e psicanalista do Laboratório de Neurociências do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Diante dessa expectativa, o melhor então é voltar-se para dentro e pensar: o que posso fazer? Como posso contribuir como pai, como filho, como cidadão? Tornar-se útil nesses momentos é uma boa medida para reduzir a sensação de impotência e ainda encontrar um sentido no meio de todo o caos. Um exemplo é se oferecer para fazer compras para os idosos, que nesse momento precisam ficar em casa para se proteger.
Com o isolamento imposto para conter o avanço do vírus, sabemos que a já mudou bastante. Mas é preciso tentar manter uma certa normalidade dentro dessa rotina anormal. “Vamos continuar fazendo as refeições, lendo o jornal que gostamos, conversando com pessoas queridas, nos exercitando e trabalhando de casa, quando for possível”, afirma a psicóloga.
O importante é admitir que serão tempos difíceis e que a rotina vai ter de ser alterada de alguma forma. Isso não significa, no entanto, entrar em pânico. “É uma ótima oportunidade para refletir sobre prioridades nas nossas vidas e ainda pensar em novas formas de executar nosso trabalho, por exemplo”, afirma.